TikTok: desinformação sobre infertilidade
O TikTok no Brasil já se consolidou de vez, o que não é novidade para quase ninguém, não é mesmo? A rede social já ultrapassou a marca de mais de 1 bilhão de usuários ativos por mês ao redor do mundo! Aqui no país, de acordo com o DataReportal, a plataforma de vídeos conta com 74,1 milhões de usuários ativos.
No entanto, quando o assunto é saúde e especificamente infertilidade, a rede segue sem filtros, sem curadoria e disseminando informações erradas. O alerta vem de um artigo publicado no Daily Mail recentemente.
Segundo a jornalista Rebecca Whittaker, o TikTok espalha desinformação sobre fertilidade, permitindo que os criadores de conteúdo aleguem erroneamente que chá de abacaxi caseiro é bom para quem está fazendo FIV, que mapas astrais e leituras astrológicas podem prever quem vai engravidar e que a redução do tempo de tela, os suplementos e as vitaminas podem aumentar as chances de concepção.
Postagens como essas, que envolvem “dicas de fertilidade” acumulam mais de um bilhão de visualizações, de “influenciadores de fertilidade” – que publicam o que bem entendem, sem nenhum compromisso com a ciência ou com a vida humana.
Embora essas sugestões não sejam necessariamente perigosas para a saúde, os “influenciadores de fertilidade” estão dando esperanças falsas às pessoas, especialmente às mulheres, que podem estar dispostas a tentar qualquer coisa em sua busca por filhos.
O que diz o TikTok
O TikTok alega que não permite que as pessoas publiquem informações médicas incorretas que possam causar danos. O gigante da mídia social argumentou, no entanto, que as postagens sinalizadas pela reportagem do jornal “não são médicas”, portanto, não precisam ser precisas e nem precisam ser retiradas do ar.
O que se configura num grande absurdo, pois os “influenciadores de fertilidade” estão vendendo de tudo, recomendando testes hormonais e suplementos, sem o menor embasamento para tal.
“A enorme quantidade de informações erradas nas redes sociais pode tornar mais difícil para as mulheres que vivenciam problemas de fertilidade saber o que é correto. Isso sem contar na vulnerabilidade emocional da paciente, que busca todos os caminhos e soluções possíveis que estão ao seu alcance para alcançar a gravidez”, afirma o especialista em Reprodução Assistida, Pedro Peregrino, diretor da Clínica Venvitre.
Uma pesquisa do Royal College of Obstetricians and Gynecologists (RCOG) revelou que 76% de 1.000 mulheres com idades entre 18 e 65 anos não tinham certeza se as informações sobre fertilidade que encontram na Internet são imparciais ou parciais. Quase dois terços se sentiam sobrecarregadas com o grande volume de informações disponíveis nas redes sociais. Essa “batalha contra a desinformação nas mídias sociais” aumenta o já difícil desafio das lutas pela fertilidade.
Isso sem contar em marcas que vendem produtos específicos para a fertilidade – como chás, suplementos e pílulas completamente inúteis – e empregam o argumento de que esses produtos foram “desenvolvidos por médicos”. Esses produtos são frequentemente comercializados como “naturais”, mas isso não significa necessariamente que sejam seguros ou eficazes.
Fertilidade nas estrelas
Outra forma comum de exploração da fé do paciente infértil são as leituras astrológicas que visam dar esperança às mulheres que estão tentando engravidar. Há “influenciadores de fertilidade astrológicos” que afirmam prever o momento certo para tentar ter um bebê.
“O que é perigoso em tudo isso? É a desestabilização emocional que os falsos milagres podem causar no paciente. Em se tratando de infertilidade, não basta pensar positivo, não basta tomar uma vitamina, comer uma fruta, fazer uma simpatia. O que realmente funciona é buscar ajuda médica especializada o quanto antes”, defende Pedro Peregrino.
Pesquisar sobre infertilidade on-line é uma coisa natural, mas é vital que os casais ou indivíduos que desejam engravidar não recorram às fontes erradas. Usar as redes sociais como uma forma de buscar suporte pode ser incrivelmente útil, mas é bom desconfiar de qualquer “influenciador de fertilidade” que tente promover produtos específicos, tratamentos ou conselhos radicais online.
“E por mais que o TikTok alegue que esses vídeos não violam as diretrizes da comunidade, sabemos que eles colaboram com a desinformação, com o fortalecimento de mitos prejudiciais à saúde física e mental da paciente infértil”, defende o médico.