O “rejuvenescimento ovariano” é possível?
Os tratamentos de infertilidade podem ser muito intimidadores. Estamos habituados a tomar remédios na forma de comprimidos com um simples gole de água, então, adentramos num mundo de seringas, picadas de agulha e ultrassons – que podem acontecer diariamente, mudando a rotina e as nossas certezas.
E não é incomum que, nesse momento, pacientes em tratamento de infertilidade também se deparem no meio de suas jornadas com promessas, atalhos e “novas formas de tratamentos” que prometem aumentar suas chances de sucesso de formar uma família.
Há algum tempo, temos notícias de pacientes que recorrem rotineiramente à acupuntura, fitoterapia, massagem, atenção plena e outras modalidades de tratamento alternativas, ao mesmo tempo que fazem o tratamento da clínica de reprodução assistida.
Se um tratamento sugerido não causa danos e se há uma pequena chance de ajudá-los, os pacientes se sentirão compelidos a experimentá-los. Há um impulso de não deixar pedra sobre pedra, especialmente quando existe um limite no número de ciclos de fertilização in vitro que eles podem realizar.
E nos últimos anos, o plasma rico em plaquetas (PRP) foi adicionado à lista de “terapias adjacentes” que alguns pacientes procuram na esperança de aumentar suas chances de sucesso com a fertilização in vitro.
Que tratamento é esse?
O tratamento com PRP pega uma pequena quantidade do próprio sangue do paciente – coletado da mesma maneira que para um teste de laboratório – e o gira em alta velocidade em uma centrífuga. Isso separa os diferentes componentes do sangue, produzindo uma porção de plasma com uma concentração muito alta de plaquetas.
Normalmente associamos as plaquetas à coagulação, mas elas também fazem parte do sistema imunológico do corpo e são essenciais para curar lesões. Como o PRP é derivado do seu próprio sangue, ele apresenta um risco menor do que outros tratamentos eletivos, como medicamentos ou cirurgias.
“O emprego do PRP não se originou nos tratamentos de infertilidade, mas, atualmente, é oferecido por outras especialidades. Na verdade, ele tem sido usado em dermatologia, cirurgia plástica, ortopedia e só recentemente começou a ser testado em reprodução humana assistida”, explica o especialista em Reprodução Assistida, Alexandre Lobel, diretor da Clínica Venvitre.
O emprego no tratamento da infertilidade ocorre com a injeção do PRP em dois locais diferentes, geralmente antes ou durante um ciclo de fertilização in vitro. Primeiro, no útero, para apoiar o crescimento do revestimento endometrial e torná-lo mais receptivo à implantação de um embrião; e segundo, nos ovários, para apoiar o desenvolvimento de folículos mais saudáveis, capazes de produzir óvulos que podem eventualmente ser fertilizados para produzir embriões saudáveis.
“O problema é que o PRP é considerado um tratamento experimental no Brasil e não há evidência alguma de benefícios da sua prática no tratamento da infertilidade. Então só existe um contexto para a realização da prática desse procedimento invasivo: o paciente estar participando de um estudo clínico sobre o tema. E ele não pode ser cobrado por este procedimento”, afirma Alexandre Lobel.
O “rejuvenescimento ovariano” é possível?
Se você pesquisar on-line por informações sobre o PRP, encontrará várias clínicas usando a frase “rejuvenescimento ovariano”, sugerindo que o PRP pode tornar seus óvulos mais jovens. Voltando agora ao título do texto, vamos responder à pergunta central: o “rejuvenescimento ovariano” é possível?
“Ainda não. No mundo real, o que sabemos sobre a reserva ovariana é que as mulheres nascem com todos os óvulos que usarão durante toda a vida. E quando eles terminam, quando esse estoque se acaba, na menopausa, a gestação só é possível com a doação de óvulos ou por meio do descongelamento de óvulos, procedimento que deve ter sido feito anteriormente. Ou seja, até hoje, diante das possibilidades científicas e médicas que dispomos, não temos tecnologia para falar em rejuvenescimento ovariano. O uso de células-tronco e a terapia celular pode ser um caminho para isso”, informa o diretor da Venvitre.
E como já conhecemos todos os problemas decorrentes do envelhecimento feminino – mulheres com mais idade têm menor probabilidade de engravidar e essas gestações têm maior probabilidade de terminar em perda gestacional espontânea em decorrência do envelhecimento dos óvulos – temos que atuar preventivamente, falando em planejamento reprodutivo e congelamento de óvulos e não comercializando o “rejuvenescimento dos óvulos”.
Pacientes de infertilidade são pacientes vulneráveis. Eles não têm a capacidade de avaliar se um tratamento que está sendo oferecido é efetivo ou não. Acupuntura, suplementos vitamínicos são práticas vistas como de risco muito baixo, mesmo que não se mostrem eficazes. Mas a injeção de PRP nos ovários é um procedimento invasivo, que precisa de mais dados que suportem a sua prática.